Sem notar, deixava o cotovelo atritando sobre a mesa. Ao sentar ou ao deitar, não percebia o corpo meio torto. Às vezes, enquanto andava, sentia uma dor muito fina, como se algum espinho muito pequeno tivesse atravessado a sua pele. Quase sempre, no meio dos afazeres, alguma luminosidade lhe agredia os olhos. E era raro não ter que lidar com alguma saliência mais desconfortável, onde quer que se recostasse.
Mas eram tão comuns esses pequenos desconfortos,
que nem se sentia direito. Achava que isso devia fazer parte do próprio ato de
viver. Sem pensar muito, acreditava que isso fosse da própria natureza do
existir. Só de vez em quando, alguma alma generosa lhe aconselhava outras
formas de ser corpo. O que ele seguia com ar de obediência, mas como se
estivesse realizando um ato muito excepcional. E, no geral, ia levando a vida
assim mesmo, com essas dores imperceptíveis infestando o seu jeito banal de ser
humano; com essas minúsculas picadas de mosquito dando forma ao seu íntimo, sem
perceber.
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