sexta-feira, 3 de junho de 2011

Desconter-se



A porta se abre por onde a noite passa. O hálito gelado da rua escura circunda em um espírito que se lança, sai por aí e se desfigura. Passa cada passo como se fosse um vôo, como se fosse um salto. Enquanto sensações antes mortas vão sendo desenterradas, reafirmadas, desmortizadas. E mundos inteiros sacudidos, invadidos. Renascidos.

Esse vagar é maior do que qualquer momento, ele é eterno, é desde antes e será depois, para sempre. Não há mistério. Essas passagens são túneis repletos de imensidão, desorientação, confusão. Forte e aparente libertação.

Não é a realidade, a medida. É a intensidade. Intensa vontade de viver. Intensa vontade de fazer durar o que não tem tempo, de se fazer aqui o que não tem lugar. Ardente desejo diante do fracasso de não poder segurar, de não ser nada do que nunca será. De ser tudo, sem deixar de algo encarnar. De se perder. Dissimular...

É esse desespero que celebra a si mesmo, por esse delírio de tentar essa coisa realizar, mesmo sabendo que isso vai ao infinito e que não vai se alcançar, mesmo sentindo na pele esse grito, que não sabe parar de calar.

É, pois, nessa noite sonora, e em silêncio, que se faz esse rito, de fazer algo ser dito, ainda que mal dito, ainda que esquisito, diante desse infinito, que não pode ser contido, para ser exprimido, simplesmente por nunca parar de transbordar.

5 comentários:

  1. Lindo demais seu texto Glauber...

    encantada com sua escrita...

    bjao

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  2. Porque é assim que são os corações!

    BeijooO*

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  3. As vezes o coração é maior que a pessoa.

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  4. O coração nos prega peças indecifráveis ou irremediáveis. A vida é efêmera, mais no coração de quem ama, o tempo é tempo, o tempo precisa de amor e o amor ele nunca se esgotará, é eterno no coração dos apaixonados. Belo texto e muito bem expressivo.

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  5. Mesmo que não dure, que não tenha lugar, que não se possa segurar e, por mais que se queira, que nunca será, a gente deseja. Mas é assim mesmo, sempre desejamos, e sem querer esperar, sempre esperamos.
    E transbordamos.

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