sábado, 19 de dezembro de 2009

Queria lhe lembrar algo...



Queria fazer uma homenagem às prostitutas, que em sua bendita paciência, aturam os homens que se esfregam nojentos... pelo seu sofrer homérico, de bailar com o corpo e de ter que driblar os horrores, os brutais e insensíveis religiosos... queria lembrar da moça que brinca de balanço porque quer, porque é bom, mas também da que brinca sem sorrir, sem gostar, sem gozar emoção nenhuma... das que doem e doem em sua flor pequena e ingênua... porque não podem com os lobos... e são vendidas, e são transportadas de lá pra cá, no mundo virtual, numa angústia espantadoramente real...

Sentes nojo delas? De suas bocas peculiares e cuspidas? Por que não respeitam as donzelas de alma?... Ser puta de corpo é ser gente que sente, como um político corrupto é gente que toca em seu ombro, aperta sua mão e você sorri... Se não sorri pras mulheres da vida, então chore pelas flores vermelhas... Só não esqueçam que algumas são felizes, não proíba quem quer, sejam anarquistas em alma, seus violentos!

Salvem as puras que sorriem sem dentes... estão em algum esgoto! sem gosto, sem vida, sem nada... pare de lhe dar tiros embalados de preconceito... Falta-lhe carinho sem violência, falta-lhe afeto sem braços roxos, falta-lhe você... falta-lhe eu... eu que hoje senti um pesar, ao lembrar de uma casa que não existe, mas que é real... casa que também é putêro, que vive gente, que também habita dentro de mim...

Sim, nós somos deuses!



Que isso tudo é vazio, não é novidade. Porém tijolos de ouro tentam nos convencer que existe uma verdade, aquela verdade especial, a preciosa, que cala nossa boca só de se mostrar...

Zumbis enfeitados com suas jóias reluzentes convencem seres fortes e corados a morrerem sempre, todo o amanhecer. Tantas cores na tela entontecem nosso senso, prendem nossa respiração, aprisionam peças valiosas.

Mas não podem esconder o abismo por muito tempo, não, não podem. A vertigem do despertar, da vigília, dos momentos livres e inúteis não deixará nossa sensibilidade metalizada. Homens sérios se desmancharão diante dos nossos sentidos. Rituais distraídos perderão suas máscaras, e quando todo o nada se revelar, nossas bocas serão descosturadas eternamente, sem cicatrizar, num constante criar, numa eterna revolução.

Que tudo isso é vazio, não é novidade. Mas não há decepção na conclusão, e sim criação, esperança, recomeço, poder.

Tudo pode mudar... A realidade não existe, eis a boa notícia! No vazio podemos construir nossos sonhos vazios.

Sim, nosso vazio é criativo...

Sim, nós somos deuses!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Você para pra pensar...



Você para pra pensar e não é nada daquilo que você pensou.
Nem sequer imaginou que poderia ter apodrecido com o tempo. Não cogitou em nenhum momento que a multiplicação é sempre um câncer.

O que fazer em desertos gelados? Como não ser vencido pelo cansaço?

Os ventos da existência desgastam até a pedra mais bem polida. Não há espaço para tanto riso, a não ser a comédia ferina, que mascara dores.

Não há tempo para se perguntar se você está alimentando seu inimigo. O ato é só agora. O presente exige e convence que está acontecendo na exatidão do tempo.

A esperança é vã. As coisas sempre mudarão. E mesmo que não piorem, os costumes existirão. O cotidiano ritual não cessa. E vai segurar suas mãos como criança sorrindo e girando, com sua brincadeira leve e diabólica.

Não há verdadeiro suspiro. O que há é um verdadeiro peso no pulmão, que quase te destroça todo por dentro, que te tira do sério, que te faz avançar, mesmo que você não queira, que berra em seu ouvido como um despertador feroz.

Nesse movimento, que talvez não o leve além, você vai empurrando a si mesmo, imaginando as belezas das ideologias sadias, dos combates e embates a favor de suas idéias e de sua moral.

O mundo dá nó em seu coração, e isso vai apertar ainda mais, meu amigo.

E você me pergunta do que estamos falando aqui exatamente? O que mais temos a falar, senão dessas banalidades que nos mantêm de pé, que nos fazem sensatos e serenos, que não abdicam nunca em favor da nossa fera faminta, que nos arrastam para diante do nosso inimigo verdadeiro que está sempre em todo lugar, que está na superfície da aparência e no profundo da essência?

Homens sérios vivendo seus momentos, andando em círculos. Os gritos do peito traduzidos em sentenças racionais ou em expressões artísticas, tanto faz.

Você para pra pensar e não era nada daquilo que você pensou.

Mas mesmo assim, não paramos de caminhar com nossos paus e pedras nas mãos, unhas e dentes afiados, prontos para explodir e nunca mais ficar no lugar...