sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O homem verde



Plantas são mais carinhosas do que paredes. Mas o olhar ficou perdido mesmo assim.

Só quem se perdeu na mata encontrou a folha mais verde. E comeu. E foi possuído pelo verde. E se tornou uma pessoa verde na floresta.

As paredes já começam a sumir quando se tornam muros encardidos. Uma árvore encontrou o homem. E viu que ele era muito verde. E gostou de aceitá-lo na terra de cheiro forte.

Naquele tempo, o homem já sabia que era possível entrar pelas paredes até chegar ao morro, dentro de um tijolo. De um tijolo com limo. Esses portais foram muito bem escondidos pelos deuses. É preciso saber procurar. E ninguém nunca vai entrar se não for aos pedaços.

O caminho é todo ondulado. As estradas feitas pelos pés descalços são de sangue. De um sangue verde. Extraído de pés verdes.

Apesar disso, ninguém pôde notar quando ele entrou de alma e tudo por aqueles caminhos no meio do mato. Ninguém viu a forma como ele olhava com toda a força pela janela do ônibus. Ninguém o enxergou, enquanto ele se partia no meio.

Só começaram a notar mesmo, foi quando o homem começou a vomitar uma coisa verde pra todo lado...