quarta-feira, 4 de julho de 2012

Você




Esse seu jeito, todo seu, de tossir ou de espirrar. Esses barulhos que você faz ao mastigar ou ao engolir. Essa sua postura vulnerável diante do que você gosta demais. Esses seus cuspes de quando fala de maneira mais empolgada. Esse seu olhar forçadamente confiante de quando acorda vigiado, ou de quando quer esconder algum susto ou alguma vergonha. Essa sua maneira despercebida de impor ritmo calculado ao corpo, a depender do que estiver acontecendo. Essa sua voz ingenuamente firme de quando fala sobre coisas tão suas e tão desprezadas pelos outros. Esse seu desconforto, por vezes disfarçado, por vezes escancarado, de quando conhecidos seus, de contextos diferentes, se encontram num mesmo lugar com você. Essas satisfações desnecessárias que você dá a quem só queria socializar breve e automaticamente. Essa sua capacidade de ser suprimido em situações de que tanto se arroga saber lidar. Esse seu riso sem graça...

Isso tudo e muito mais. Isso tudo, menos esses seus pesados suspiros distraídos e essas suas lágrimas no travesseiro, que são o charme fino do seu íntimo. De resto, isso tudo não passa de sua superfície grosseira e de sua humanidade exposta, que te banalizam de forma truculenta, cravando você na atmosfera desconfortável do meu coração.