quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O ritual

Foi no mar, a minha voz se confundindo com o barulho das ondas, que entendi como tudo faz parte de tudo, o latido de um cão, o amor, a água, o vento. E eu no meio de tudo...

De olhos fechados, não distingui o que era eu do que era o mundo. Meu sangue e minha carne eram como pedaços pequenos do universo, me deixando assim do tamanho dele. Eu me senti pertencente à vida e aceitei isso imensamente. Funcionei como um cordeiro abatido num ritual. Apesar das pessoas ao redor, eu estava só, sem testemunhas, como acontece nos ritos mais fundamentais, inesperados, irreversíveis.
 
Quando eu sai, ninguém viu o sangue derramado na minha pele, ninguém notou o meu sorriso surpreso de paz, ninguém me viu mergulhar na desarmonia de olhos renovados, pisando firme na areia, preparado para todas as pedras e plantas, para todos os abismos e flores. Eu era como um animal pré-histórico saindo do mar...